Abuso de poder
No incesto o mais forte domina o mais fraco.
O agressor tem maior capacidade física, social, psicológica e legal em relação
a criança vitimizada e pratica o crime de forma irresponsável, usando o
poder que possui visando tão somente satisfazer seus desejos e aliviar suas
tensões.
“ Eu tinha de fazer
tudo que ele me mandava. Muitas vezes isso significava que ele colocava seu
pênis ou outros instrumentos dentro de mim. Se eu fosse “boazinha”, então a
situação ia melhorar. Se eu não fizesse as coisas exatamente como ele queria,
ele urinava em mim. Até me fez comer o excremento dele quando eu não era
boazinha. Mas descobri que, à medida que o tempo passava, eu nunca conseguia
ser suficientemente boazinha. Muitas vezes ele me violentava de todas as
maneiras possíveis e depois ia embora, deixando-me para “que me limpasse” a fim
de poder entrar novamente em casa.” LANGBERG (2002)
Traição da confiança
O agressor é uma pessoa conhecida da
criança. Pode ser parente ou amigo (incesto polimorfo) da família. Existe um
elo de confiança e responsabilidade entre a vítima e a pessoa do abusador.
Quando o incesto é praticado esse vínculo se rompe, fazendo com que o
sentimento de menos valia e traição venham a tona e contaminem a relação.
Presença da violência psicológica
Quer seja a violência sexual praticada
com abuso da força física, ameaça ou indução da vontade, ela sempre estará
revestida de abuso psicológico.
Imposição do sigilo da vítima
O nível socioeconômico entre a vítima
e seu abusador geralmente é o mesmo
A classe social não é um fator
determinante para a existência ou não do incesto. Apesar da maioria dos casos
denunciados serem provenientes da classe menos favorecida, isso não quer dizer
em absoluto que as famílias da classe média e alta ficam imunes a esse tipo de
prática. Na verdade as classes mais abastadas são mais dissimuladas e escondem
a prática incestuosa com maior eficiência, pois têm ao seu dispor mais
mecanismos a fim de manter o sigilo. Ex: Médico da família, que geralmente
aceita atender a criança e/ou adolescente para realizar um aborto.
Para SAFFIOTI (1995: 23),
“... nas classes mais
pobres, o pai joga a filha numa cama, põe uma faca, um canivete, um revólver, a
arma que tiver, ao lado da cama e estupra a filha e diz: ‘Se você abrir a boca,
eu mato você, mato a sua mãe, todos os seus irmãos.’ A menina vive sob ameaça
concreta. Agora, é muito pior nas camadas privilegiadas. Não se ameaça com
revólver nem com faca. Não há ameaça. O que há é um processo de sedução que, ao
meu ver, é muito mais deletério para a saúde emocional da criança que a ameaça
grave. Porque o pai vai seduzindo, ele vai avançando nas carícias – eu digo o
pai porque é a figura mais freqüente, mas isso não impede que seja o avô, o
tio, o primo, o irmão, etc. – e é muito difícil para uma criança distinguir
entre a ternura e o afago com fins genitais.”
Fonte:
Maria Leolina Couto Cunha
Especialista na Área do Enfrentamento da
Violência contra Crianças e Adolescentes
Professora Universitária. Advogada. Master
Coach. Analista Comportamental.
Diretora Presidente CELC. Coordenadora Nacional CECOVI
Referências
Bibliográficas:
LANGBERG, Diana Mandt. (2002).
Abuso Sexual – aconselhando vítimas: tradução Werner Fuchs, Curitiba: Editora
Evangélica Esperança. Título do original: Counseling Survivors of Sexual Abuse,
Tyndale House, Wheaton
SAFFIOTTI, Heleieth. A
exploração sexual de meninas e adolescentes: aspectos históricos e conceituais.
In: BONTEMPO, Enza Bosetti et alli (org.). Exploração sexual de meninas e
adolescentes no Brasil. Brasília: UNESCO/CECRIA, 1995.
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